Descrição
- Editora : Todavia; 1ª edição (8 junho 2021)
- Idioma : Português
- Capa comum : 160 páginas
- ISBN-10 : 6556921467
- ISBN-13 : 978-6556921464
- Dimensões : 20.6 x 13.6 x 1 cm
R$ 33,90
Quem se deslumbrou com a maestria narrativa, a sólida e delicada construção de personagens, a linguagem apurada e a temática brasileira de Torto arado, romance que converteu Itamar Vieira Junior em um dos nomes centrais da nossa literatura contemporânea, vai encontrar neste Doramar ou a odisseia ainda mais motivos para celebrar a ficção do autor. Num diálogo permanente com nossas questões sociais e a tradição literária brasileira, Itamar enfeixa um conjunto de histórias a um só tempo atuais e calcadas na multiplicidade de culturas que formam o país. Parte dos textos deste volume foram publicados em A oração do carrasco (2017), finalista do Prêmio Jabuti em 2018. A estes, foram acrescidos outros, inéditos em livro. Lidos na sequência, atestam a vitalidade de um escritor que encontra inspiração em personagens que desafiam os limites que lhes foram impostos. Assim, contos como “A floresta do Adeus”, “Voltar” e a história que dá título a este volume falam de personagens femininas que enfrentam as condições mais adversas. Outros, trazem luz sobre nosso passado escravocrata, evocam a cultura afro-brasileira (“Farol das almas”, “Alma”), a ancestralidade indígena (“O espírito aboni das coisas”), a marginalidade e a loucura (“Manto da apresentação”, sobre o artista Arthur Bispo do Rosário). E há espaço inclusive na imaginação de Itamar para uma história como “Na profundeza do lago”, em que algo de gótico se insinua pelas franjas da trama.
Leila de Carvalho e Gonçalves (comprador verificado) –
O Brasil Contemporâneo
Torto Arado conseguiu realizar um feito inédito na literatura brasileira. Tendo como autor um romancista estreante, o baiano Itamar Vieira Júnior, o livro não só venceu os consagrados prêmios Leya, Oceanos e Jabuti, como conseguiu arregimentar uma legião de leitores que extrapolou a mais ambiciosa previsão: no momento que escrevo esse comentário, o romance já vendeu mais de 165 mil exemplares sem dar sinais de arrefecimento nas vendas.
Entretanto, tamanho mérito, se posto à prova, também cobra um preço à altura. Um bom motivo para que o escritor resolvesse não procrastinar a publicação do próximo livro, já que como hábil contador de histórias, possuía bala na agulha para liquidar de vez com o estigma do “autor de um único sucesso”.
Aliás, material ideal para uma terceira compilação de contos, o segundo título lançado pela prestigiada Editora Todavia. Sinteticamente, Doramar Ou A Odisseia reúne doze narrativas, sendo que são cinco inéditas em livro e sete foram retrabalhadas, fizeram parte de uma edição esgotada, 1000 exemplares, do livro Oração Do Carrasco que foi finalista do Prêmio Jabuti em 2019.
O resultado é uma seleção de contos que destila uma irreprimível solidão e diz muito do Brasil contemporâneo, mesmo quando as histórias estão ambientadas em décadas ou séculos anteriores, inclusive, algumas foram inspiradas em relatos ouvidos por Itamar durante suas viagens a trabalho pelo interior da Bahia e Maranhão. Para quem não sabe, o escritor é servidor do INCRA, geógrafo e doutorado em Estudos Étnicos e Africanos pela UFBA, portanto além de etnógrafo de formação também é um etnógrafo da imaginação e não se trata de casualidade sua obra ser comparada a um libelo em prol das minorias sociais.
Resumidamente, quatro os contos jamais passaram pelo crivo do leitor:
* O Que Queima conta a história de um casal que não consegue viver em paz na casa que comprou com tanto sacrifício.
* Na Profundeza Do Lago gira ao redor de uma professora que decide tirar um ano sabático, após constantes embates com o conselho de ética e moral instaurado na escola onde lecionava.
* Inquieto Rumor da Paisagem tem como pano de fundo um eclipse e relata o inusitado vínculo entre uma prostituta e uma baleia encalhada na praia.
* Voltar aborda a história de Divina, proprietária do único casebre que permanece de pé, impedindo a abertura das comportas de uma hidrelétrica.
Já, Farol Das Almas, a única narrativa publicada previamente numa revista literária, reporta ao sobrenatural para reafirmar a importância econômica da escravidão para o Brasil do século XIX, a ponto do encalhe de dois navios negreiros determinar a custosa construção de um farol na costa baiana.
Quanto aos contos restantes, três giram em torno de personagens femininas. Em Alma, uma escrava decide fugir, quando se dá conta de sua condição humana; em Doramar Ou A Odisseia, inspirada no poema homônimo de Homero, as sequelas da escravidão surgem como herança familiar na vida de uma doméstica; finalmente, No Mar discorre sobre a migração ilegal a partir de uma senegalesa que se recusa a aceitar o afogamento do marido durante a travessia do Atlântico.
As outras narrativas são:
* A Floresta Do Adeus é uma distopia que pode ser compreendida como uma alegoria à polarização ideológica do país.
* O Espírito Aboni Das Coisas esclarece o que é a honra mediante a perspectiva indígena.
* A Oração Do Carrasco amplia a discussão sobre a interrupção da vida, envolvendo até a senciência dos animais.
* Manto Da Apresentação se debruça sobre o encontro de arte, miséria e loucura na vida do genial artista plástico Arthur Bispo Rosário, que passou mais de cinquenta anos internado na Colônia Juliano Moreira, no Rio de Janeiro, sob o diagnóstico de esquizofrenia e paranóia.
O resultado é fascinante, certamente um dos melhores lançamentos de 2021, e se você gostou de Torto Arado, torceu por Bibiana e Belonísia, também irá se encantar com esses contos cuidadosamente tramados por um artesão da palavra, um mestre da oralidade, um perito construtor do tempo narrativo que é capaz de de escrever longos parágrafos, embebidos de força e lirismo, sem perder a atenção do leitor e implacável, nocauteá-lo a cada desfecho. Viva Itamar!
“Um poeta cultiva palavras como um homem da terra cultiva o grão. Um poeta colhe mudanças, um homem da terra colhe a vida. Um poeta colhe o desdém, um homem da terra colhe a praga. Uma palavra somente é viva se ela transforma; encerrada em um livro, não vive — é preciso lê-lo. O alimento só alimenta se amadurece. Você pode lançar sementes na terra e elas não germinarem. Mas, caso cresçam e se mostrem vivas, as sementes irrompem a terra como as palavras irrompem um livro, um muro, um aviso.” (Oração do Carrasco, posição 56)
Nota: Adquiri o e-book, recomendo.
Luciana Rodrigues (comprador verificado) –
Maravilhoso
Chegou rápido e muito bem embalado. O livro, dispensa comentários, é excelente
José Eduardo Adura (comprador verificado) –
Simplesmente perfeito.
Comentário sem spoiler – como as demais obras do autor, este livro te faz viajar na essência da nossa história e, principalmente, no sofrimento dos negros e marginalizados do Brasil. Recomendo cada linha.
Vera (comprador verificado) –
Bom, gostoso de ler
Ainda não terminei de ler
Nely da Costa Barbosa (comprador verificado) –
Mais uma obra prima do Itamar Vieira Junior.
Esse segundo livro do Itamar Vieira Junior, só reforça sua sensibilidade e conhecimento ao discorrer sobre temas essenciais para nossa história.
Samuel (comprador verificado) –
Chegou em ótimo estado
A mídia não pôde ser carregada. Chegou em ótimo estado como já disse e, bem embalado. Sem reclamações!
Alcir Santos (comprador verificado) –
Contos de incrível atemporalidade
Pelo visto o baiano Itamar Vieira Júnior, veio para ficar na lista de grandes escritores brasileiros. E olha que andávamos precisados, carentes de autores capazes de alinhar a qualidade do texto com relatos interessantes tendo como foco a realidade — que parece imutável — de grandes parcelas da população brasileira, quase sempre submetidas a terríveis condições de vida, sob a persistente indiferença dos que ocupam os andares mais acima.
Embora alguns contos no leitor a sensação de que falta alguma coisa, outros se destacam e podem, tranquilamente, ocupar espaço entre os melhores já escritos no Brasil. É o caso, por exemplo, de “Alma” onde, com rara sensibilidade, narra, na primeira pessoa, a fuga de uma escrava que vai se internando no mato, fugindo sempre de seus algozes até se fixar, num lugar bem distante, onde se instala e planta o embrião do que viria a ser uma comunidade, uma espécie de quilombo. Com segurança e sensibilidade, o autor conduz o leitor pelos caminhos da protagonista, tomada por uma mistura de medo, dor e esperança.
Um outro conto que pode fazer parte de qualquer antologia dos melhores já feitos no Brasil, é o “Manto da Apresentação” onde, simultaneamente, faz pesada crítica ao sistema, então vigente, de manter os doentes mentais em sanatórios/hospícios em condições sub-humanas e, em paralelo, vai contando como Arthur Bispo do Rosário produziu a sua obra artística, usando como linha os fios da roupas que ele desfazia. Aí Itamar desborda porque faz uma espécie de elegia, de rara sensibilidade e com um lirismo bem marcado.
Bem, esses foram os contos que me impressionaram de verdade. Isso não quer dizer que os outros não são bons. Não mesmo. A maioria são histórias bem escritas, sempre com o forte cunho social que é uma espécie de marca do autor, desde que publicou o excelente Torto Arado. “Meu Mar (Fé)”, por exemplo contagia pela incrível persistência da protagonista em manter a fé, na expectativa do reencontro do homem amado tragado pelo oceano profundo. Em “O Espírito ‘aboni’ das Coisas”, onde os personagens são índios em luta desesperada para não cair nas garras do colonizador, transita pelo surreal com a intervenção de divindades da Natureza na senda de um homem em desespero na busca pelas ervas que evitarão a morte da companheira.
Dessa forma, Doramar ou a Odisseia é um livro de contos digno de ser lido e apreciado.
Viken (comprador verificado) –
Avaliação do fornecedor
Livro entregue rápido e em perfeitas condições.
Cliente Kindle (comprador verificado) –
Muito bom
São 12 contos que dão voz aos esquecidos, escravidão, racismo, a jornada de diversos povos. É um livro duro, difícil de ler de uma vez só, os temas são importantes e destruidores. A edição é linda, boa letra e espaçamento.
Rodrigo (comprador verificado) –
Sensível e tocante. Lindo de viver!
12 contos que, em minha opinião, tem sua centralidade na experiência individual do ser humano em face as diferentes situações que experimenta-se na vida em diferentes contextos históricos e de origem de cada um. Fugitivos, órfãos, imigrantes, algozes, vítimas e divindades: Todos experienciam a vida de forma única e particular. Penso que aqui está o maior trunfo do imaginador que inventa vida, dá-lhe nome, forja identidade e cria história mas a essência, que nos faz identificar o elemento humano, desperta empatia e nos transmite a verdade daquele ser, essa já existe e é doada por ele, seja por suas experiências pessoais, “causos” que escutou ou as vidas que tocaram a sua própria
Mesmo que o imaginador só tivesse tirado tudo isso da cachola sem o coração e que esses sentimentos e experiências não tenham conexão com nenhum lugar, pessoa ou tempo, a partir do momento que as li, tornaram-se concretas e reais. Já amo Doramar (“cabe um mar inteiro em seu nome”), espero com “Foi” e Maudigá o retorno dos que amo, contemplo “neme” pela manhã e a medida que “Bahi” surge meu aboni enche-se de gratidão.
Recomendo muito. Itamar, mais uma vez, mandando muito bem!!